LIVRO ILUSTRADO EM ESSÊNCIA:
DISCUSSÕES SOBRE CORPO, AMOR E SOCIODISCURSIVIDADE NA OBRA FOLHA, DE STEPHEN MICHAEL KING
Resumo
Ao redor do corpo, percepções específicas sobre corporeidade se envolvem de realidades imaginadas, desdobradas em imaginários sociodiscursivos, que firmam saberes de conhecimentos e de crenças. A relação dos indivíduos com seus corpos sempre foi motivo de debate, análise e críticas, visto que o corpo se tornou um meio idealizado de representação social, guiando, de certa forma, o modelo atual de vida. Assim, a sociedade moderna vive em um sistema que projetou tanto a forma de habitar, de amar, de ser e de sentir, doutrinando e padronizando o ser em sua totalidade, quanto a sua forma de ler e de compreender as informações que a cercam. Da imperiosa necessidade de ler sociodiscursivamente e de modo (des)rotulado os discursos amorosos e as representações corporais presentes em livros ilustrados, como Folha, de King (2008), que este artigo se justifica. Destaca-se que essa obra, percebida nas análises sob o olhar de Feres (2019), explora a defesa da corporeidade como aspecto fundante para a construção identitária do protagonista enquanto indivíduo social imerso em uma dada cultura. Posto isso, esse estudo objetiva analisar sociodiscursivamente o livro ilustrado, ancorando-se nas representações sociais do corpo e nos discursos amorosos. Para tanto, utilizou como embasamento teórico os constructos de Charaudeau (2008; 2018), em um viés semiolinguístico, Tucherman (2019), com postulados relativos ao discurso amoroso na literatura, de Nikolajeva e Scott (2011), com estudos sobre livro ilustrado, palavras e ilustrações, sempre considerando o corpo sob as concepções de Le Breton (2007) e Foucault (1997).
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